sábado, 25 de fevereiro de 2012

Mensagem de agradecimento do irmão do Chefe Jaime, o sr. Rui Alexandre

Rui Alexandre, irmão do Chefe Jaime, e a sua esposa Noémia
Reproduzimos aqui a mensagem que o sr. Rui Alexandre, irmão do Chefe Jaime, tornou hoje pública no Facebook:


"Meus queridos amigos,
É tão difícil estar longe! Tanto que eu queria estar perto e ser o primeiro e o último a abraçar o meu irmão Jaime! Tanto que eu queria, mais a minha mulher, estar ao pé da Belmira e dar-lhe o maior conforto do mundo que nós pudéssemos!
Estar longe e não poder chorar junto de quem parte e de quem sofre é uma coisa terrível, amigos!
O nosso grande conforto foram os telefonemas que recebemos, as mensagens, as coisas que lemos no Facebook.  Em todo o lado nós pudemos perceber os grandes amigos que o Jaime e a Belmira têm, e tantos deles estiveram bem perto a ajudar a passar estes momentos de tão grande tristeza.
No fundo, os que, como nós, são familiares têm a obrigação de estar perto e de apoiar, mas a solidariedade e o carinho dos amigos é outra coisa, é ouro de outro quilate.
Não sei como poderei agradecer tudo o que fizeram pelo Jaime e estão fazendo pela Belmira.
Os seus amigos foram, para além da família, tudo o que de mais importante na vida o meu irmão teve. E os escuteiros, a gente nunca soube se eles faziam parte da família ou dos amigos do Jaime, ele gostava tanto deles!
Amigos, em nome da minha mulher, dos meus filhos, dos meus netos e em meu nome, peço-vos que acreditem e aceitem o nosso mais sincero agradecimento pelas pessoas maravilhosas que foram sempre na vida do meu irmão Jaime e não deixaram de ser neste momento terrível do seu falecimento.
Estamos todos profundamente sensibilizados por tudo aquilo que temos ouvido, por tudo aquilo que temos lido acerca do meu irmão. Nós já sabíamos que ele tinha muitos amigos e que gostava muito de todos, mas, sinceramente, não tínhamos ideia de tanto forte que eram - e com certeza vão continuar a ser - os laços de amizade, carinho e companheirismo de tantos para com o Jaime e a Belmira.
Não nos levem a mal que deixemos um abraço de gratidão muito especial ao senhor Luís Filipe Machado, sua esposa e filhos, que acompanharam sempre, com muito carinho e sem fraquejar nunca, o meu irmão enquanto ele esteve em São Miguel, no hospital. Também à afilhada Estela, que será sempre um tesouro ao lado da nossa cunhada Belmira; e ao Carlos, que teve a difícil e corajosa missão de ir falando connosco, mesmo que fosse para nos dar as notícias que menos queríamos alguma vez ouvir. Repito, não nos levem a mal que falemos apenas destas pessoas, já que tantas são as que nos vêm ao pensamento e que vamos guardar nos nossos corações com a mesma ternura e com a mesma gratidão.
Do fundo do coração, a todos o nosso BEM-HAJAM!"

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Quem morre e deixa saudades nunca a vida abandonou

Gosto muito da escrita de Miguel Torga, os contos, os apontamento do Diário e os poemas. Num deles, com o título "Adeus", Torga escreve:
Mosteiro da Batalha, em 10 de setembro de 2011
É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
(...)
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
(...)
Tenho para mim que é precisamente a "lucidez desencantada" de que fala Torga que permite à sabedoria popular condensar significados preciosos sobre a vida e sobre a morte em tão poucas palavras, como nesta quadra recolhida, algures, por Jaime Cortesão:
Quem disser que a vida acaba
Digo-lhe eu que nunca amou;
Quem morre e deixa saudades
Nunca a vida abandonou.
Que bom haver poetas! Ajudam-nos a suportar a dor que, como dizia Fernando Pessoa, mesmo fingindo, verdadeiramente sentimos, e, ao mesmo tempo, a encontrar consolo numa paz interior apaziguada com a certeza do que somos capazes de guardar no coração.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Uma expressão de serena alegria

Em casa, no aniversário da sua Belmira, em agosto de 2010
Penso que esta fotografia mostra bem, como costuma dizer a nossa tradição, o que vai na alma do Chefe Jaime: um misto de sentimentos de alegria serena, de satisfação interior e de paz, muita paz.
O Velho Lobo guarda discretamente os olhos atrás dos óculos mas observa atentamente em volta... Sim, estão todos bem, a alcateia está animada... Ao mesmo tempo, permite-se sentir o prazer do que cuidou que acontecesse... Como eu gosto de os ver assim!...
(Felizmente para todos nós, o Chefe Jaime não se furtava às fotografias, nem se deixava condicionar por elas. E o prazer, que se foi acentuando com a idade, de ele próprio fotografar e fazer pequenos vídeos das suas animadas ocasiões e aventuras do dia a dia, permitiu-lhe guardar um conjunto muito interessante de registos que são agora, mais do que nunca, preciosos!)
Momentos antes, o Chefe Jaime tinha sido o mais alegre dos cantadores.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Chefe Jaime, o meu herói, um dos meus melhores amigos.

 O José Henrique Azevedo é, certamente, um dos muitos escuteiros que tiveram o privilégio de crescer e aprender com o "pedagogo" único, como o considerou, também hoje, na igreja das Angústias, o senhor padre Júlio, venerável ancião de quase 90 anos de idade.
Provavelmente fazendo voz de tantos que sentiram e sentem como ele, o Zé Henrique, partilhou com todos os que se juntaram na triste, mas muito fraternal e carinhosa, cerimónia de hoje, a seguinte mensagem:
“Caros amigos:
Esta mensagem, embora seja minha, acredito que seja sentida da mesma forma por muitos de vós.
Conheci o Chefe Jaime com 11 anos no Agrupamento 171 das Angústias.
Nos anos seguintes o Chefe Jaime transformou-se no meu herói. Levou-me a experimentar, a viver e a sonhar com muitas actividades que me encantaram e me fizeram apaixonar pelo escutismo, e que fez com que me mantivesse lá pelo menos mais 25 anos.
Foram os jogos, as canções, os Fogos-de-Conselho, as actividades na sede, a alegria, a amizade, a tomada de responsabilidade, os desafios, as vitórias, as derrotas, mas também o querer servir…
Com a idade, o Chefe Jaime deixou de ser o meu herói, como é normal, mas continuou a ser meu amigo, um grande amigo, um dos meus melhores amigos, daqueles que infelizmente nem temos tantos assim…
Ao fim de 41 anos de amizade continuei a achar formidável a sua capacidade de tocar verdadeiramente o coração de tantas pessoas, através da sua alegria, amizade e boa disposição.
Agradeço-lhe aqui, perante vós, tudo o que de bom ele deu a milhares de pessoas, principalmente jovens, ao longo de 50 anos ao serviço do escutismo, e não só…
Espero um dia voltar a fazer um Fogo-de-Conselho com ele e com mais uns amigos nossos, para colocarmos o Maior de Todos os Chefes a rir e a cantar connosco!
Obrigado Chefe Jaime, o senhor foi como me disse um rapaz do continente que o conhecia, e a quem ontem participei a sua morte, “…uma pessoa fantástica à brava!…”
Foi a memória viva do 171, não se cansava de contar todas as suas histórias.
Que muitos Chefes Jaimes apareçam para que o Mundo se torne um lugar melhor!!!...
Um grande beijo para a D. Belmira, e para as pessoas que a têm ajudado… “

Até sempre, Chefe Jaime!


Não pude estar presente, como tanto gostaria que tivesse acontecido, na última homenagem ao Chefe Jaime, em presença do corpo.
Pedi ajuda à minha irmã, que prontamente harmonizou a sua própria homenagem pessoal com a minha. Assim, enquanto eu pude recolher-me solitariamente na Igreja Paroquial dos Olivais, em Lisboa, que abriu as suas portas especialmente para mim à hora em que todos se juntaram na Igreja das Angústias à volta do Chefe Jaime, a minha irmã, Fátima Pinto, partilhou com todos as seguintes palavras:

“Caro Chefe Jaime :
Ao longo dos anos da nossa convivência coube-me muitas vezes a parte má da questão, aquela em que não está tudo bem… Mas houve muitas coisas boas, e por todas elas o meu obrigado…
Hoje, venho ler-lhe uma mensagem que acho linda, escrita pelo meu irmão, que muito o estimava, como sabe…
Antes porém, deixe-me transmitir-lhe um “até sempre” dos meus filhos que, longe ou perto, choraram ontem por si…”

A seguir, a minha irmã leu, então, as minhas palavras, ao mesmo tempo que eu também as lia, sozinho, em recolhimento, na nave da igreja que, em Lisboa, foi propositadamente aberta para eu ficar mais perto do Chefe Jaime e de todos os que estavam com ele:

Chefe Jaime, meu querido companheiro - como eu adorava ouvi-lo a chamar-me companheiro!,
Quanto vale um amigo?... Quanto?... Vale o mundo inteiro, não é, Chefe Jaime?
Quantas gerações de crianças e jovens estiveram consigo no mundo que foi sempre único para nós, o mundo que o Chefe Jaime soube, como ninguém, inventar?
Mais, quantas gerações de meninas e rapazinhos aprenderam a sonhar e a construir mundos nas coisas que fizeram consigo, calcoreando a pé as ilhas, saindo de barco para o mar, ou levantando voo nos pássaros gigantes dos aviões?
Cada aventura consigo era uma viagem à Terra do Nunca, a terra que o escritor inglês inventou para nela meter as epopeias fantásticas das eternas crianças. Eram aventuras deliciosas, sempre com o fascínio dos mistérios que só o Chefe Jaime sabia tecer e arquitetar.
Os filmes do cinema estão cheios de bicicletas que voam, de armários da roupa que nos levam para mundos fantásticos, de varinhas mágicas que transformam abóboras em coches. O Chefe Jaime não tinha nada disso, até os segredos da pesca eram feitos de fios simples. O resto era a sensibilidade da ponta dos dedos, os olhares discretos ao que se passava em volta, a cara virada ao vento ou ao sol a perceber para onde eles apontavam. E, sem que a gente soubesse sequer como lá tínhamos entrado, saíamos, ao fim de algum tempo, do seu mundo mágico, da Terra do Nunca, e gritávamos, vaidosos e eufóricos, a sentirmo-nos os melhores do mundo, e pavoneávamos entusiásticas façanhas de grandes conquistadores.
Quantas vezes estive eu assim no seu mundo, o mundo que sempre a todos o Chefe Jaime proporcionava, sem mais, parecendo que era tudo fácil, que tudo era engendrado sem qualquer esforço.
Logo que me conheceu, querido Chefe, deu-se-me em toda a confiança e amizade que o seu coração era capaz. E acabou dando-me também o privilégio de fazer parte do solidário grupo de amigos que me habituei a ver em sua casa nos anos da Chefe Belmira e nos seus. Como posso eu falar da ambiência de amizade, carinho e prazer recíproco que eu encontrava, nesses encontros, nesses jantares animados, em todos os familiares e amigos presentes, só pela razão de estarem uns com os outros? E o Chefe Jaime era sempre o mais contente de todos, adorava ter-nos a todos ali juntos! Quantos de nós vão ser ser capazes de juntar à sua volta os amigos que o Chefe Jaime juntava?
O Chefe Jaime é o testemunho de que a amizade é simples; e a alegria também. Uma e outra aceitam quaisquer condições para serem cultivadas, sejam de muita chuva ou de grande seca. Basta que verdadeiramente, lealmente, se queiram e se procurem.
A mítica Atlântida fará sempre parte do imaginário dos Açores. A partir de agora, todos podemos tentar encontrar aí tambem a verdadeira Terra do Nunca, a sua. O Chefe Jaime vai levá-la consigo. Vai guardá-la, vai escondê-la, em mais um jogo de fantasia e mistério com que tão divertidamente vai querer continuar a enfeitiçar-nos. Pode crer, companheiro, meu querido amigo, que, sempre que eu voltar ao Faial, vou procurar esse tesouro que nos deixou aí, escondido algures. E sempre que o descobrir vou voltar a guardá-lo no sítio em que o deixou. Sei que haverá mais quem queira disfrutar do tesouro que partilhou connosco e nos deixou em legado; e disfrutar do tesouro que o Chefe Jaime foi e continuará a ser para todos nós.
Obrigado por tudo, companheiro! Obrigado por tudo, Chefe Jaime. Repouse, com toda a tranquilidade e paz que merece. Onde quer que esteja, nós lhe levaremos os sons do mar e do vento, o riso e o espanto dos miúdos, os gracejos e os carinhos dos amigos; o amor e a saudade dos familiares; o olhar e os silêncios cúmplices da sua companheira de sempre, a sua Belmira.
Até sempre, Chefe Jaime, até sempre!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Até sempre, queridos amigos!

Meus queridos amigos,
Hoje o meu corpo cansou-se e eu não consegui que ele resistisse à tentação do que a tradição nos habituou a chamar o eterno descanso.
Não me levem a mal, pudesse eu resistir e escolher e imaginaria ainda uma nova brincadeira de Carnaval, se não fosse este ano, seria para o próximo.
Sei a amizade e o amor que levo no coração, e estou seguro de todos os familiares e amigos que me guardarão nos seus.
Sei ainda que a minha querida Belmira terá sempre a companhia amiga de alguém a seu lado.
Obrigado a todos, por tudo o que me deram, por tudo o que partilhámos.
Com muita amizade, com muita alegria, a vida vale bem a pena!...
Até sempre, queridos amigos!