Aqui vamos - os amigos, os companheiros, os irmãos-escutas, os familiares - deixando guardadas as memórias que a presença do Chefe Jaime e da Chefe Belmira foram proporcionando nas nossas vidas.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Até sempre, Chefe Jaime!
Não pude estar presente, como tanto gostaria que tivesse acontecido, na última homenagem ao Chefe Jaime, em presença do corpo.
Pedi ajuda à minha irmã, que prontamente harmonizou a sua própria homenagem pessoal com a minha. Assim, enquanto eu pude recolher-me solitariamente na Igreja Paroquial dos Olivais, em Lisboa, que abriu as suas portas especialmente para mim à hora em que todos se juntaram na Igreja das Angústias à volta do Chefe Jaime, a minha irmã, Fátima Pinto, partilhou com todos as seguintes palavras:
“Caro Chefe Jaime :
Ao longo dos anos da nossa convivência coube-me muitas vezes a parte má da questão, aquela em que não está tudo bem… Mas houve muitas coisas boas, e por todas elas o meu obrigado…
Hoje, venho ler-lhe uma mensagem que acho linda, escrita pelo meu irmão, que muito o estimava, como sabe…
Antes porém, deixe-me transmitir-lhe um “até sempre” dos meus filhos que, longe ou perto, choraram ontem por si…”
A seguir, a minha irmã leu, então, as minhas palavras, ao mesmo tempo que eu também as lia, sozinho, em recolhimento, na nave da igreja que, em Lisboa, foi propositadamente aberta para eu ficar mais perto do Chefe Jaime e de todos os que estavam com ele:
Chefe Jaime, meu querido companheiro - como eu adorava ouvi-lo a chamar-me companheiro!,
Quanto vale um amigo?... Quanto?... Vale o mundo inteiro, não é, Chefe Jaime?
Quantas gerações de crianças e jovens estiveram consigo no mundo que foi sempre único para nós, o mundo que o Chefe Jaime soube, como ninguém, inventar?
Mais, quantas gerações de meninas e rapazinhos aprenderam a sonhar e a construir mundos nas coisas que fizeram consigo, calcoreando a pé as ilhas, saindo de barco para o mar, ou levantando voo nos pássaros gigantes dos aviões?
Cada aventura consigo era uma viagem à Terra do Nunca, a terra que o escritor inglês inventou para nela meter as epopeias fantásticas das eternas crianças. Eram aventuras deliciosas, sempre com o fascínio dos mistérios que só o Chefe Jaime sabia tecer e arquitetar.
Os filmes do cinema estão cheios de bicicletas que voam, de armários da roupa que nos levam para mundos fantásticos, de varinhas mágicas que transformam abóboras em coches. O Chefe Jaime não tinha nada disso, até os segredos da pesca eram feitos de fios simples. O resto era a sensibilidade da ponta dos dedos, os olhares discretos ao que se passava em volta, a cara virada ao vento ou ao sol a perceber para onde eles apontavam. E, sem que a gente soubesse sequer como lá tínhamos entrado, saíamos, ao fim de algum tempo, do seu mundo mágico, da Terra do Nunca, e gritávamos, vaidosos e eufóricos, a sentirmo-nos os melhores do mundo, e pavoneávamos entusiásticas façanhas de grandes conquistadores.
Quantas vezes estive eu assim no seu mundo, o mundo que sempre a todos o Chefe Jaime proporcionava, sem mais, parecendo que era tudo fácil, que tudo era engendrado sem qualquer esforço.
Logo que me conheceu, querido Chefe, deu-se-me em toda a confiança e amizade que o seu coração era capaz. E acabou dando-me também o privilégio de fazer parte do solidário grupo de amigos que me habituei a ver em sua casa nos anos da Chefe Belmira e nos seus. Como posso eu falar da ambiência de amizade, carinho e prazer recíproco que eu encontrava, nesses encontros, nesses jantares animados, em todos os familiares e amigos presentes, só pela razão de estarem uns com os outros? E o Chefe Jaime era sempre o mais contente de todos, adorava ter-nos a todos ali juntos! Quantos de nós vão ser ser capazes de juntar à sua volta os amigos que o Chefe Jaime juntava?
O Chefe Jaime é o testemunho de que a amizade é simples; e a alegria também. Uma e outra aceitam quaisquer condições para serem cultivadas, sejam de muita chuva ou de grande seca. Basta que verdadeiramente, lealmente, se queiram e se procurem.
A mítica Atlântida fará sempre parte do imaginário dos Açores. A partir de agora, todos podemos tentar encontrar aí tambem a verdadeira Terra do Nunca, a sua. O Chefe Jaime vai levá-la consigo. Vai guardá-la, vai escondê-la, em mais um jogo de fantasia e mistério com que tão divertidamente vai querer continuar a enfeitiçar-nos. Pode crer, companheiro, meu querido amigo, que, sempre que eu voltar ao Faial, vou procurar esse tesouro que nos deixou aí, escondido algures. E sempre que o descobrir vou voltar a guardá-lo no sítio em que o deixou. Sei que haverá mais quem queira disfrutar do tesouro que partilhou connosco e nos deixou em legado; e disfrutar do tesouro que o Chefe Jaime foi e continuará a ser para todos nós.
Obrigado por tudo, companheiro! Obrigado por tudo, Chefe Jaime. Repouse, com toda a tranquilidade e paz que merece. Onde quer que esteja, nós lhe levaremos os sons do mar e do vento, o riso e o espanto dos miúdos, os gracejos e os carinhos dos amigos; o amor e a saudade dos familiares; o olhar e os silêncios cúmplices da sua companheira de sempre, a sua Belmira.
Até sempre, Chefe Jaime, até sempre!
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