sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Quem morre e deixa saudades nunca a vida abandonou

Gosto muito da escrita de Miguel Torga, os contos, os apontamento do Diário e os poemas. Num deles, com o título "Adeus", Torga escreve:
Mosteiro da Batalha, em 10 de setembro de 2011
É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
(...)
De que servem lamentos e protestos
Contra o destino?
Cego assassino
A que nenhum poder
Limita a crueldade,
Só o pode vencer a humanidade
Da nossa lucidez desencantada.
(...)
Tenho para mim que é precisamente a "lucidez desencantada" de que fala Torga que permite à sabedoria popular condensar significados preciosos sobre a vida e sobre a morte em tão poucas palavras, como nesta quadra recolhida, algures, por Jaime Cortesão:
Quem disser que a vida acaba
Digo-lhe eu que nunca amou;
Quem morre e deixa saudades
Nunca a vida abandonou.
Que bom haver poetas! Ajudam-nos a suportar a dor que, como dizia Fernando Pessoa, mesmo fingindo, verdadeiramente sentimos, e, ao mesmo tempo, a encontrar consolo numa paz interior apaziguada com a certeza do que somos capazes de guardar no coração.

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